Com alguma sorte, estaremos livres de Lula em:

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Porque Não se Pode Dizer o Silêncio

Por Nathalia Ferro*

Falar pra quê?

Pra desabafar, pra soltar um grito que estremeça até os rins (e os intestinos, esses inúteis). Pra engrandecer o monstro interior que berra por liberdade, pra transgredir, pra reforçar o que dissemos desde sempre e contradizermos o que deixamos de acreditar, o que caiu de moda de acreditar.

Falar pra calar a boca de quem os pensamentos irritam ainda mais do que as colocações, pra provocar ainda mais os que proferem palavras aleatória e alienadamente pelo puro e simples prazer (e até certa inocência, eu diria) de falar bobagens. Falar pra emudecer de vez o cataclismo diário que é querer falar de coisas para as quais o direito de falar não foi adquirido – legisla-se muito pouco sobre isso depois da ditadura da democracia.

Falar pra importunar, pra encher mesmo, e pra sacanear muitas vezes. Pra tirar de onda e pra expor escandalosamente as feridas sanguinolentas da alma e do coração incontrolável. Falar pra enaltecer o espírito, pra exercitar a voz... Pra não ser indiferente nem omisso. Pra não ser cínico, e semear a urgente beleza de falar o que se vê.

Pra descansar o senso angustiado que lateja louco, pedindo opinião, por favor, opinião. Falar pra fugir do abismo insondável que o silêncio cava dentro de nós, pra espantar a loucura e fazer nascer outra mais linda e leve e galopante. Pra se revelar e se rebelar. Pra rasgar em ferro ardente: LIBERDADE, bem profundo, bem doído, bem do lado de dentro do peito, que é pra gente não esquecer nunca mais de como isso é importante.

Falar pra tocar, pra chegar junto, pra olhar no olho da pessoa do teu lado e sentir que ela te achou mais gente por causa da tua voz. Falar porque é preciso coragem, porque nada nesse mundo até hoje se fez mais ousado que a palavra. Pra ruir com a ignorância, principalmente a em relação a nós mesmos. Pra varrer longe o império de achismos e pensismos que permeia as relações mais cotidianas. Pra conduzir o teu amigo ao teu interior e estarrecer teu inimigo com tua inteligência.

Falar pra simplificar. Pra desenvolver e ampliar. Pra evoluir. Pra ter uma razão de ser lembrado nesse mundo em que muitos já passaram e mais ainda passarão (se o próprio homem permitir que isso ocorra). Pra destituir absurdos e aniquilar hipocrisias. Nunca para fazê-los ainda maiores, ainda mais purulentos e asquerosos.
Falar para enfeitar o ar com voz e luz, com a palavra que é sempre bela, sempre livre e sempre viva.

Falar porque é justo que se fale. Porque não há como dizer O silêncio e com ele se diz pouco ainda. E porque é exatamente a palavra o mais confiável e poderoso instrumento de paz.


*Texto oferecido, com toda humildade, é claro, ao Nhoque Nhoque.

3 comentários:

Francisco Bezerra disse...

Perfeito

Caio Andrade disse...

Acabei não deixando o comentário no dia em que li. Mas já falei diretamente com a própria autora o quanto gostei do texto.

Muito obrigado, Dona Nathalia. =)

Francisco Bezerra disse...

Caio, como se faz pra deixar uma foto sorridente quando se posta um comentário, que nem essa tua ao lado?