Ele passou a maior parte do debate de hoje fumando. Não falou muito. Mostrou-se tranquilo o tempo todo. Ria e falava serenamente com os adversários. Sua chapa não foi muito requisitada, mas pôde mostrar bem a que veio. Converso agora com William, estudante de História e membro da chapa 1, Consciência e Luta, sobre sua candidatura para o DCE.
Nhoque Nhoque – William, desculpe-me, mas tem-se falado pouco da Chapa 1 “Consciência e Luta”. Apesar de vocês terem comparecido aos debates, não vemos muitos cartazes, e vocês também não passaram nas salas, como fizeram as outras chapas. Você não acha que isso prejudica a visibilidade de seu grupo, fazendo com que fiquem atrás na campanha?
William - De certa forma, sim. Porque a nossa chapa não tem recursos, adesivos, cartazes, panfletos, camisa e outros utensílios de campanha. Pois a nossa não tem apoio financeiro de partido político, sindicato, C.A., D.A., DCE. Ou até mesmo do governo do estado, do município, da união e até mesmo da reitoria. Nós não temos nenhum desses apoios. E isso dificulta a nossa divulgação. Ao contrário das outras chapas.
Nhoque Nhoque - Como assim "ao contrário das outras chapas"? Quais delas têm apoio financeiro das entidades que você citou: CA, DA, DCE, sindicatos, estado, município e união?
William - Eu não quero fazer calúnias e muito menos difamação...
Nhoque Nhoque - Então fale só a verdade...
William - Eu suponho ou especulo as possibilidades de que as duas chapas devem está recebendo apoio dessas instituições ou entidades. Até mesmo pelos recursos que as duas chapas tem.
Nhoque Nhoque - Uma das chapas, a chapa 2, foi na minha sala, interrompendo um trabalho de meus colegas, e lá falaram que a chapa 3 era financiada pela reitoria. Eu achei aquilo muito estranho e perguntei a eles: como pode a chapa 3 estar sendo financiada pela reitoria e estar se utilizando de uma material tão ruim - na época eles só tinham cópias em preto e branco, que distribuíam e pregavam nos murais - e eles, da chapa 2, um material muito superior? Eles alegaram que tinham sido financiados por sindicatos e por professores. Que tipo de interesse você acha que sindicatos e professores teriam em financiar uma chapa? Interesses, digamos, revolucionários? Por que a chapa de vocês, que tem uma linha parecida com a deles, também não recebeu esse tipo de "ajuda"?
William - A UJS e a LIGA apoiaram atual reitor na ultima "eleição", ou seja, na consulta prévia. Existe a possibilidade da reitoria financiar a chapa 3. Até porque o Zé Carlos, que é do PC do B, e é assessor do Reitor Natalino Salgado. Enquanto a chapa 2, há evidência que a APRUMA esteja apoiando, pois a entidade e ligada é filiada a CONLUTAS. E tem fortes ligações com o PSTU. E é o PSTU que está na direção da APRUMA. No caso, o Professores Welbson Madeira e Cláudia Durans, que são do PSTU, e são da APRUMA. A nossa chapa não recebeu recursos deles por não estarmos efetivamente e de fato no grupo deles.
Nhoque Nhoque - Você diz que uma chapa tem ligações partidárias e outra é a favor da reitoria. Depois diz que não recebe recursos porque não está no grupo deles. Você aceitaria receber se estivesse? Você não acha que essa relação promíscua entre estudantes e partidos, sindicatos etc., compromete o foco de suas reivindicações?
William - Eu, particularmente, não aceitaria. Porque eu estou na UFMA desde 2004. E que eu percebo é a fragmentação do movimento estudantil é por causa dos partidos políticos que usam o movimento como trampolim para promover-se politicamente. Eu não sou anti-partidário e muito menos apartidário, desde que seja para somar forças junto com o movimento. Mas na prática isso não vem acontecendo. Por interesses particulares. E todos os partidos que estão inseridos no movimento tem a parcela de culpa. E são os principais responsáveis pelas crises dos movimentos sociais, principalmente estudantil. Pois nós temos a UNE, que está sob a direção do UJS / PC do B há mais de 15 anos. E a CONLUTE, apesar de ter um bom programa político e tem travado grandes lutas neste país, contra a Reforma Universitária e o REUNI, mas está sob a direção do PSTU. E de uma forma burocratizada. E a UNE apóia as reformas do atual governo, principalmente a Reforma Universitária e o REUNI. E impedido as lutas dos estudantes.
Nhoque Nhoque - Mas você não acha que, apesar do peleguismo destas entidades, não podemos fazer algo à parte. Na minha opinião, pode-se fazer mais coisas extraordinárias sem DCE do que com ele. Você acha que estas entidades estudantis têm tanta representatividade hoje em dia?
William - Eu particularmente, sou militante do movimento estudantil desde que comecei o meu curso, e nunca precisei de DCE ou C.A. Mas eu sou membro do C.A, mas eu estou saindo da entidade. Pois o mandato já encerrou, e está no processo eleitoral. A chapa que eu faço parte, foi criada para sair no antagonismo entre UNE e CONLUTE. E construir o novo rumo para o movimento estudantil, para sair da apatia, fragmentação e dessas crise que atravessa atualmente. Com o movimento autônomo, soberano, democrático e de luta. Em defesa da universidade pública, gratuita, laica, autônoma, soberana, democrática, universal e de qualidade.
Nhoque Nhoque - Nossa! Quantos adjetivos! Mas você não acha a UNE e a CONLUTE insignificantes demais para ficar se pautando nelas? A UNE tem história e tal, mas hoje não representa NADA. A não ser as brigas partidárias que você citou. O barato da UNE é saber com qual partido ela ficou. Como a sua chapa pode representar essa alternativa para o antagonismo UNE x CONLUTE?
William - A nossa chapa pode representar sim, mas sem burocracia, e sem fazer no DCE o gabinete com portas fechadas. E defendemos o DCE defenda os princípios dos estudantes, que tenha um programa político em defesa universidade, mas sem atrelamento com outra entidade. E defendemos o rompimento com a UNE e o dialogo com a CONLUTE, mas sem atrelamento.
Nhoque Nhoque - Como assim "diálogo"? Um bate-papo num boteco? Vocês vão fazer festinhas e chamar eles? Por que a UNE não e a CONLUTE sim?
William - Como eu disse anteriormente, eu reconheço a história e a trajetória da UNE. Mas atualmente ela mesma enterrou toda essa história de luta. A CONLUTE tem o bom programa político, e tem participado de diversas lutas nas universidades brasileiras. Mas a CONLUTE já surge burocratizada, pois o PSTU majoritariamente está na direção. E como a CONLUTE nos últimos anos tem participado nas lutas. Aceitamos o diálogo, mas sem submeter a burocracia da direção e queremos uma CONLUTE sem burocracia.
Nhoque Nhoque - Que tipos de lutas? A que burocracia você se refere?
William - A luta em defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade. E a burocracia é quando refiro aos congressos feitos pela UNE, nos quais a UJS se utiliza de todas as práticas autoritárias e impede qualquer discussão que vai de contra os seus interesses. E o PSTU vem agindo da mesma forma, dentro da CONLUTE, e falo isso porque eu tenho um amigo que mora em Cuiabá-MT. Que eu conheci no Encontro Nacional dos Estudantes de História na UFMT, e ele é da CONLUTE, mas não do PSTU. Muitos outros que conheço que são da CONLUTE em outros Estados, mas não têm vínculo com o PSTU. E este meu amigo de Cuiabá, de vez em quando, ele manda ao meu e-mail, as práticas autoritárias do PSTU, principalmente no Congresso da CONLUTE.
Nhoque Nhoque - Foi boa a conversa. Boa sorte. Alguma outra consideração?
William - Muito obrigado pela entrevista. Espero que os estudantes vejam nesta eleição não apenas uma eleição. Mas o DCE que nós queremos. E que tipo de universidade queremos. E por um movimento estudantil independente, soberano, democrático e de luta. Chapa 1 - Consciência e Luta. Obrigado!!!!!!
segunda-feira, 16 de junho de 2008
Consciências, lutas e diálogos
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