Resumo: Como algo que teria sido criado para gerar inclusão tem uma rejeição tão grande exatamente nos grupos em que elas foram utilizadas? É muito estranho o que foi mostrado pela pesquisa, e ela certamente dará ensejo para uma reavaliação do que se está querendo conseguir com este sistema: uma nação sem preconceitos e menos desigual ou inclusão forçada?
Dia 23 de agosto, nós fizemos, em algumas turmas da UFMA, nos prédios do CCSo, uma pesquisa de opinião sobre ações afirmativas. Era uma pesquisa básica. Saímos por aí entrevistando estudantes de diversos perfis. Entre as perguntas estavam “em qual dos grupos étnicos abaixo você se define?”, “você sabe o que são ações afirmativas?” ou “você é a favor das cotas como sistema de inclusão nas universidades públicas?”. Nada demais.
Porém, após a apuração dos resultados, algo nos deixou estarrecidos: nas turmas de primeiro período pesquisadas, Comunicação Social e Pedagogia, a rejeição ao sistema de cotas é bem maior do que em turmas de períodos mais avançados. Ou seja, a rejeição às cotas é maior justamente nas turmas em que elas foram implantadas.
Na pesquisa, nós separamos os entrevistados em dois grupos: as turmas com cotas e as turmas sem cotas. Nas turmas com cotas 55,6% dos entrevistados foram contra as cotas, contra 42,8% a favor, enquanto nas turmas sem cotas 53,8% foram a favor e 46,2% contra esse sistema como forma de inclusão nas universidades públicas.
Esse absurdo indicado pela pesquisa pode ser fruto de vários fatores, e dela podem ser tiradas várias conclusões. Primeiro: não houve uma discussão séria nas escolas de ensino médio e cursinhos sobre as ações afirmativas e as políticas de cotas que seriam implantadas. Segundo: não houve por parte da mídia um esclarecimento da população e, por conseguinte, dos interessados sobre o objetivo das ações afirmativas. E por último: a política de cotas é um fracasso total.
Como algo que teria sido criado para gerar inclusão tem uma rejeição tão grande exatamente nos grupos em que elas foram utilizadas? Eu, que era um grande entusiasta dessas políticas, tive minhas convicções fortemente abaladas. É muito estranho o que foi mostrado pela pesquisa, e ela certamente dará ensejo para uma reavaliação do que se está querendo conseguir com este sistema: uma nação sem preconceitos e menos desigual ou inclusão forçada?
Um comentário:
É nesse momento que devemos nos lembrar que a nossa constituição, apesar dos pesares, AINDA defende a liberdade. Tradição a nós legada do desenvolvimento, pela cultura ocidental, de um sistema de governo que levou 2500 anos para ter a forma como hoje em dia se apresenta.
O governo não tem o direito de interferir dessa forma na sociedade. O governo não tem, principalmente, o direito de selecionar pela cor da pele ou da classe econômica, quem deve ou não deve frequentar a universidade.
As discriminações presentes no sistema seletivo do vestibular são apenas uma das instâncias de um processo de várias etapas. É apenas a forma como se manifestam todas as falhas que o Brasil possui no seu sistema educacional. Intervir diretamente nos resultados não é nada senão um embuste, já que a verdadeira responsabilidade do governo é conceder uma educação pública de qualidade.
Toda política pública deve ser emancipatória, não compensatória.
Finalizando. Existem 2 pontos cruciais que me deixam pasmo no sistema de cotas raciais. Primeiro, o próprio convite de se enxergar a sociedade através da lente racial. Segundo, a constatação do que Alexis de Tocqueville temeu em 1845, a possível "tirania da maioria".
Não importa mais a liberdade ou a razão. O Brasil quer se tornar um país de "preto revanchista". Eles são a maioria, eles mandam.
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