Com alguma sorte, estaremos livres de Lula em:

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Uma assembléia ilegítima

Sai da sala achando que assistiria uma verdadeira palestra sobre como e porque ser contra o Reuni. Estava ciente de que veria estudantes e professores das mais variadas matizes da esquerda ufmiana competindo para ver quem faria o discurso mais inflamado, mais exaltado, mais pomposo e ao mesmo tempo mais empolgante contra o novo programa do Governo e contra a autoritária reitoria. Fiquei surpreso. Acabou sendo bem pior do que eu pensei.

Como já era de se esperar, não houve debate nenhum na assembléia. O estudante que se propôs a defender o projeto foi prontamente retaliado de todas as formas. Gritos, urros, provocações, vaias, risos de deboche e berros intercalavam suas frases. Os pedidos de silêncio e respeito eram inúteis. Poucos sabiam se portar. Entre uma afirmação e outra, era chamado de burguesinho, mentiroso, capacho... O que era para ser uma discussão sobre o programa de expansão das universidades públicas federais se tornou uma quixotesca luta de classes. O estudante sofrido contra o privilegiado. O burguês contra o proletário. O do CCBS contra o do CCH.

Sua fala foi seguida por discursos pomposos e cheios de retórica, porém, sem lógica, fracos, vazios e transbordando de ressentimento. Os oradores só falavam o que a platéia queria ouvir e logo eram ovacionados com uma salva de palmas pelos bajuladores, com assobios e canções. O estudante de medicina era atacado em quase todos eles. Dificilmente tinha o direito de resposta. E quando ousava dizer algo, logo vinham as vaias e os risos. Os estudantes não conseguiam ouvi-lo sem macaquear. Aquilo parecia qualquer coisa, menos um debate.

Toda essa rispidez por parte das pessoas que se manifestavam daquela forma na “assembléia”, partia daquela cadavérica visão maniqueísta de luta de classes, de bem contra o mal, de reitoria (poder) contra estudantes (oprimidos). Via-se a assembléia como um ato para “barrar o Reuni” e as arbitrariedades do Poder, quando na verdade, deveria-se conceber o momento como uma hora para se refletir sobre quais as alternativas a serem seguidas, apontando as falhas do projeto e definindo como poderíamos superá-las da melhor forma possível. Não era para dizer se é contra ou a favor, ou de que time é. Não estamos em um jogo onde um tem que vencer. O que deveria ser feito era procurar um consenso sobre o que é melhor para a universidade e para a sociedade. Sem gritos, mas com o diálogo sereno.

A desqualificação da assembléia não se limitou somente ao espetáculo sórdido e lamentável promovido pelos estudantes. A ausência de representantes da reitoria que pudessem defender seu ponto de vista também foi uma falta enorme. Seriam vaiados sem pudor, com certeza, mas, pelo menos, poder-se-ia pensar sobre a possibilidade de haver algum diálogo um dia, um posterior debate pacífico.

Contudo, a indisposição recíproca para que isso aconteça é um indicativo cabal de que não teremos, em curto prazo, uma boa saída para os males que afligem nossa combalida universidade. Enquanto haver um lado do bem e um lado do mal na cabeça dessas pessoas, não teremos como chegar a qualquer avanço. Viveremos em conflitos e intrigas sem final, num joguinho infantil de quem começou primeiro, descambando sempre para o autoritarismo.

Não proponho que reitoria, APRUMA e DCE andem de mãos dadas a partir de agora. Só creio que maturidade na relação entre eles pode nos trazer alguns ganhos para a UFMA. Mas se alguém acha que a discórdia e a incompreensão são benéficas para ambos, que continue vaiando e gritando. Talvez um dia consiga algo com isso. Uma inflamação na garganta, quem sabe.

9 comentários:

Seane Melo, Secoelho disse...

Pensamento enquanto fotografava a assembléia: "O que será que Francisco vai escrever sobre isso?"
HA! Agora eu já sei xD

Thiago Barros disse...

Bom texto, Francisco.

Deixei de me interessar por tudo que venha da UFMA, mas, nesse caso específico, qual tua opinião?

Abraços.

Thiago Barros disse...

Frases como "O que era para ser uma discussão sobre o programa de expansão das universidades públicas federais(...)", além de outros textos postados aqui mostram uma tendência tua de ser a favor...tô errado?

Abraço.

Francisco Bezerra disse...

Obrigado, Seane, por ter se dado o trabalho de vir aqui. Volte sempre.

Francisco Bezerra disse...

Thiago, obrigado. O que nos faz continuar são esses elogios, que embora singelos, são vindos de pessoas que a opinião eu respeito.

Sobre sua pergunta:

Foi erro meu não ter colocado links com informações complementares sobre o REUNI. Prometo colocar nas próximas postagens sobre o assunto.

O nome do programa é “Programa de Apoio a Planos de Expansão e Reestruturação das Universidades Públicas Federais – REUNI”. Por isso usei o termo citado por ti. Não que eu seja contra ou a favor, só acho que temos que discutir sobre isso mais sensatamente. O projeto de adesão ao programa – que é facultativo devido à autonomia universitária – apresentado pela UFMA tem uma série de erros – o que me torna contra – mas ele não é definitivo, e mesmo que seja aprovado pode ser modificado – o que me torna a favor. Por isso acho que não há justificativa para o que eles (os professores-sindicalistas e estudantes-militantes) estão fazendo. O projeto é um plano plurianual, pode ser revisto periodicamente, que prevê um aumento significativo dos investimentos públicos nas universidades públicas, mediante o cumprimento de metas. O que se contesta de forma mais razoável não são as metas, que visam o aumento de vagas, a diminuição da evasão, assistência estudantil, incentivo à pesquisa, maior eficiência dos professores etc. O que os mais razoáveis criticam é que a UFMA não terá condições de cumprir os prazos e as metas, e o mal do programa é que ele só liberará mais verbas se a UFMA cumpri-los. Esse é um risco a ser seguido. A partir dos próximos anos, terão prioridade no aumento de verbas, as universidades que aderirem ao REUNI, portanto, se a UFMA não aderir ela estará fadada a passar mais de cinco anos sem nenhuma expectativa de melhora. Sacanagem, não é? É pegar ou largar, saca? Não dá pra falar mais sobre isso, aqui. Vou tentar falar mais depois.

Aline Queiroga disse...

Há muito o que se aproveitar do teu texto, Francisco. E também há, no teu comentário, mais informações sobre o REUNI que durante toda a parte do "debate" que assisti.
Um bom texto, porém, pecando em uma coisa que eu já havia comentado com vocês lá pelos corredores: Não foram só aqueles que eram contra o projeto quem causaram aquela baderna na Área de Vivência, não. Foram mais notáveis suas manifestações porque estavam em maior número. É bom que se ressalte, também, a falta de comedimento por parte dos poucos defensores do REUNI; prova que, se estivessem em maior número, talvez fossem tão alardeantes quanto os demais.

Vinicios Salore disse...

Parabens dona Aline Queiroga!
São de pessoas como você que a UFMA precisa, se é intelectual eu não sei,mas que é sensata e sabe analisar os fatos como realmente são na busca de tirar daí um denominador comun sem tendenciar ou o pender para os lados em seu discurso isso vc sabe fazer e creio q isso e MUITO mais, isso sim é um movimento dignigo!
Você consegue prezar pela imparcialidade como ótima profissional da sua area e deixa isso claro nao somente por seu profissionalismo, mas por sua personalidade,caso contrario ja estaria por ai a culpar os zoadentos vermelhos !
ca entre nós, você sabe que isso dará muito mais zoada quando ambos os lados juntarem-se, quer dizer, enfrentar-se!

Ô seu Francisco Bezerra! sinceramente você me decepcionou não soube responder a altura minhas provocações mais tudo bem,talvez tenha sido muito p você ou nãoentendeu ou fingiu de desentendido se apegando adetalhes mínimos para apenas se defender e fazer retóricas,éh caro rapaz...ainda muito parecido com os vermelhitos zoadentos tsc tsc tsc. vc como estudante de comunicação, deve saber,melhor do que ninguem,que o que importa é a comunicação,independente da forma que ela seja feita.. vc sabe: se a mensagem do emissor conseguir ser entendida e compreendida pelo receptor,não importa o canal ou a forma q se deu o processod a informação, se esta foi entendida e compreendida houve COMUNICAÇÃO!por tanto, nao venha criticar minha pontuação ou outros erros, pqse vc respondeu prontamente meu caro rapaz,com certeza não foram os "erros" da linguagem que o incomodaram e sim a mensagem que foi entendida pelo o senhor caro receptor Bezerra, que concerteza o impulcionaram a reagir.Além do mais,ja reparou como tem erro tbm emseus textos? mas eu entendi tudinho!Mas ja que fazes tanta questão de uma linguagem mais rebuscada, não se preucupe, estou respirando viu? espero que daí não perca o ar! (RISOS)mas sabes q a mesagem de qualquer forma sempre, sempre será entendida...
vamos ao que interessa...
entendo seu lado quando diz nao ser contra ou a favor, a falta de lógica e de direcionamento sequenciais em seu discurso apontam para ou uma imparcialidade mal declarada ou por prazer em falar pois somente tu sabes averdade..e ai de quem se contrapor pois a gramatica ja condena a centença: que és o correto - q contra resposta hein.tsc tsc (risos) o resto nao vale apena rebater pois nao é meu interesse discutir quem é certo ou errado ate são irisórios e nao valem, de fato, apena perder tempo :P.
o que vale apena agora é contrubuir para uma discursão saudavel pois bem...
caros alunos da UFMA, vemos que o programa REUNI tem pontos negativos e outros positivos, esse ultimo se for de fato "Real" .Sabemos que se o governo Federal quisesse de fato,ou tivesse a menor preocupação que as universidades participassem do processo do projeto que trará Tesouros e vantagens a UFMA e demais federais, ja não teriam chamado as tão beneficiadas instituições a participar do processo de elaboração decidindo DURANTE O PROCESSO, como melhor aplica-lo de acordo com as realidades das CONTRATADAS(leia-se universidades!) ao invés de somente aciona-las para votar se concordam ou nao em implementa-las da forma q melhor acha o governo atraves de um papel elaboradolá vc's sabem onde?
acham mesmoqueiramfazer oprocesso inverso:nÃo...primeiro vamos aprovar para garantir.Depois vamosconversar com ogovernopara dizer que nãoébemassim que as coisas funcionam,vamossentar eagora,commaiscalmavamosadaptar o REUNI à nossa realidade! Sinceramente..SE NÃO FIZERAM-NO ANTES IRÃO MUITO MENOS FAZER DEPOIS!

na minha opinião,as universidades(que dizem saber de toda sua realidade,dificuldades e necessidades)devem parar de culpar o governo e esperar que elaboremprojetos e somente achar defeitos e criticar,ou pior,coisa de preguiçoso:"adaptar".
Todos temos interesse então,se sabemos nós nossos problemas fazemos então nós nossos projetos buscando o que precisamos aoinvés de esperar,esperar,reclamar e reclamar.
Vocês podem dizer, pô mas é papel do governo fazer políticas para o Estado! até isso o governo falha enós é que pagamos o pato trabalhando no lugar deles?
..é mas greve, lutas e confrontos às vezes por demais percebiveis que sejam, sao ignorados. Então que venha a resposta ao governo a altura!
nomais setiverem outra soluçãoou ideias e senao concordarem por favor, eu estou aberto a discurções
aí esta meu endereço de email:

relativamentevinicios@yahoo.com.br.

"É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se a derrota, do que formar fila com os pobres de espírito que nem gozam muito nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota."

Theodore Roosevelt

Francisco Bezerra disse...

Tá certo que a internet não exige que a escrita seja feita de forma tão formal ou solene, mas escrever quem nem semi-analfabeto... Por favor, Vinícios... Pego no pé porque acho que você deveria honrar a universidade em que estuda, escrevendo com o mínimo de zelo aceitável, pelo menos. Você é um estudante, meu caro, não é qualquer borra-botas, você é um estudante-borra-botas. Por isso não deve estar escrevendo dessa forma por aí. Respeite minimamente sua posição de estudante. Aja como tal. Na comunicação, ao contrário do que você pensa, os meios são tão importantes quanto a mensagem. Pense o que quiser, mas a realidade é essa.

Não escrevo com nenhuma imparcialidade mal declarada, e sim com uma parcialidade declarada. Não pense que só porque não me mostro nem a favor nem contra o REUNI, sou imparcial. Isso seria uma ofensa. É fácil atacar os meios de comunicação dizendo que eles são tendenciosos, quando eles afirmam não ser. Sou tendencioso e parcial, admito, e agora? Se falo mentiras ou verdades, cabe ao leitor julgar. Não escrevo para ignorantes. Escrevo para universitários, meu caro. Portanto, deve-se supor que eles saibam pelo menos fazer o julgamento do que estão lendo, não acha, sr Vinícios?

Respondi o seu comentário não porque me senti confrangido a reagir, mas porque respondo a todos eles, seja em qual tom for, seja de quem for. Você acha que é própria universidade que tem as saídas para suas dificuldades, eu concordo. Mas cadê o nosso projeto de expansão? Algum professor fez algum? Algum estudante? Cadê? A única melhoria que eu já vi a maioria dos professores propondo foi a melhoria de seus salários e o atendimento de interesses corporativistas. Agora vêm de novo reclamar, reclamar e reclamar. E pelos mesmos motivos. Poucos são os que fazem alguma coisa por iniciativa própria, poucos são os que cumprem seus deveres.

i`m bored disse...

O estudante de medicina era eu!
Lucas Valadao...


Parabens pelo texto... refletiu bem o conceito de Assembleia e Democracia defendidos pelo DCE e pela extrema esquerda da UFMA...