Com alguma sorte, estaremos livres de Lula em:

terça-feira, 10 de junho de 2008

Diálogos de 1968

Os jovens brasileiros querem o fim da ditadura militar, os tchecos, um socialismo com rosto humano, e quanto a vocês, meus caros franceses?

― “Seja realista. Exija o impossível”.
― Nós sabemos exatamente o queremos.
― Queremos o impossível.

Pois não, peguem a chave número 7 com a secretária. Chegando no corredor, abram a segunda porta à esquerda, depois atravessem a sala até o fim e passem pela porta do fundo, ela já está aberta. O impossível está guardado bem ali, fiquem à vontade.

― Queremos o impossível sem intermediações.
― Queremos o impossível e três copos de água aqui mesmo.
― Exigimos um mundo sem portas.

Sem portas? Isso pode demorar um pouco. Uns dois ou três dias. Para adiantar, vou já passar a ordem para a minha equipe. Será um pouco complicado, mas é sim possível.

― Queremos o impossível.
― Queremos o impossível e um mundo sem ordens ou subordinados.
― Exigimos que o mundo de ontem tivesse sido sem portas.

Assim vocês me deixam numa situação difícil… Estou tentando cooperar aqui. Vejam bem, que tal eu dar exatamente nada para vocês? Nada do impossível, nem 50 % do impossível. Em compensação, vocês entram para a história como “O Movimento”, aquele que exigiu tudo, um mundo radicalmente novo, sem acordos ou meias medias. A água chegou, deixem-me servi-los.

― A proposta soa muito bem.
― Espera. Exigimos ainda o direito de pichar frases de efeito pela cidade.
― Quero apanhar polícia.

Isso pode ser arranjado. Vou adorar ver as fotos.

― Acordo selado. Foi ótimo negociar com o senhor.
― Bela a mobília desta sala.
― Onde você comprou o seu terno?

É segredo. OK, rapazes, os policiais Juan e Marc lhe acompanharão até saída. Se eles estiverem dispostos, quem sabe não começam alguma confusão lá mesmo? Adoraria que todos os jovens fossem razoáveis como vocês. Eu estaria livre de muitos problemas. Abraços.


“A impressão é de que 68 pode ter sido planejado para servir como uma espécie de ponto de referência histórico”.
Eric Hobsbawm (Especial do Estadão, 11/05)

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Do blog ângulo

Um comentário:

Aline Queiroga disse...

O melhor texto do Nhoque.