Primeiro Ato: Cena 1. Na antecâmara do inferno encontram-se Karl Marx, John M. Keynes e Roberto Campos. (Curiosamente, os três conversam em português).
Marx: Onde eu estou? Quem são os cavalheiros?
Roberto Campos: Se o cavalheiro for quem eu estou pensando ser... nós devemos estar no inferno.
Keynes: Isto parece mais uma sala de espera ou uma espécie de antecâmara. E eu creio que o cavalheiro seja Karl Marx, autor de “Das Kapital”, estou certo?
Marx: Certíssimo, sou Karl Marx autor de “Das Kapital” e pai da revolução comunista.
Roberto Campos: Eu sempre tive curiosidade de perguntar quem foi a digníssima senhora, mãe de tal revolução. Porém, ocuparei melhor meu tempo cumprimentando o outro cavalheiro, John Maynard Keynes, de quem por muitos anos fui discípulo mas que, com o passar do tempo, nossas ideologias se divergiram abruptamente.
Keynes: Cavalheiros divergem em ideologias mas convergem em propósito.
Roberto Campos: (fitando Karl Marx): Quisera eu que assim sempre fosse.
Marx: Esperem um momento, ambos estão a falar como se me conhecessem, mas não os conheço.
Keynes: Eu nasci no trágico ano que o cavalheiro pereceu.
Roberto Campos: Uma data cômica, pois foi muito longa para que o cavalheiro empestiasse o mundo com suas idéias mal elaboradas e suas previsões bizarras. Todavia, foi muito curta para que pudesses enxergar as falhas tremendas de suas idéias e conceitos.
Marx: Estás a dizer que a revolução finalmente ocorreu no mundo e que o proletariado é por fim a classe dominante? Se assim for, esquecerei a tragédia deste ano nefasto. Só tenho a dizer que empestiado estava o mundo de parasitas exploradores que se nutriam na trágica configuração do sistema capitalista.
Roberto Campos: Na verdade obtivemos uma boa parcela de evolução, este conceito que o senhor nunca conseguiu entender baseado numa suposta dialética hegeliana da História. A economia de mercado proporcionou ao trabalhador uma melhoria exponencial de vida e uma maior qualidade no trabalho. Obtivemos maior produtividade, maior produção, menores custos e maiores salários. Os trabalhadores também obtiveram inúmeros benefícios (alguns até um pouco exagerados). Hoje o capitalismo é o único sistema mundial de condução da riqueza e os países que ainda são pobres, o são por não se enquadrarem numa configuração capitalista.
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